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O coelho, o ovo e o inhame

coelho chocolate DICAs Coelho, ovo e inhame: uma trilogia cada vez menos habitual nas tradições da Páscoa regional. Isto muito por culpa do inhame, que não reúne consenso entre pequenos e graúdos.

Mas, na verdade, este espantoso tubérculo, que se faz representar por uma raiz farinhenta, com aspeto grandalhão de casca grossa, dura e áspera, é uma excelente “pessoa”. Digo, alimento. A minha analogia não é em vão, pois atributos não lhe faltam, que fazem corar qualquer outro farináceo pelas suas propriedades nutricionais. Junte-se os hidratos de carbono, que fornecem energia para repor a energia após um dia de trabalho árduo, ao leque de vitaminas do complexo B, que são responsáveis pelo metabolismo do amido e obtemos a equação perfeita para atletas e trabalhadores braçais. Outra das particularidades do inhame é a sua riqueza em vitamina E e C e a presença de sais minerais, como o potássio, cálcio, fósforo e ferro. Mais uma mão cheia de fibras capaz de empurrar e formar as fezes em qualquer intestino preguiçoso.

Por último, um segredo bem guardado, a diosgenina, que, para o público feminino, melhora os sintomas da menopausa e, para todos nós, apresenta propriedades aparentemente anticancerígenas. A ação da diosgenina no cancro parece estar relacionada com a capacidade de inibição do ciclo celular e induzir a apoptose (morte celular).

 

De volta à Páscoa, cujo nome derivado do latim significa a “passagem” e que no Novo Testamento representa a celebração da passagem da morte para a vida, questiona o leitor, porquê a tríade?

Na prática, da tríade o par mais famoso para os mais novos é o ovo e o coelho, mas em chocolate. Em ambos os casos, o seu significado inicial está longe do atual. O coelho da Páscoa está associado à Primavera e à fertilidade. O facto de o coelho ser um dos primeiros animais a se observar após o Inverno e a sua rápida procriação, representou o renascer para a vida. Por outro lado, o ovo também representa o começo da vida. Esta seria a razão pelos “antigos” desejarem uma passagem para uma vida feliz oferecendo um ovo.

E não estava mal visto, pois, do ponto de vista nutricional, o ovo é um pequeno baú de poucos gramas que alberga uma reserva de nutrientes, ou antes, “mantimentos” que permitem durante sustentar várias semanas o desenvolvimento de um ser vivo. Compreende-se assim a sua riqueza em colesterol, obrigatório na construção de milhões de células que constituem um ser vivo. Este alimento é quase completo, só lhe falta a vitamina C e uma quantidade de hidratos de carbono. Ou seja, combina lindamente com o inhame. Logo que falei do ovo com inhame, já o estou a imaginar a fritá-lo às rodelas. Ao menos, utilize o azeite e não faça disso uma prática recorrente, afinal de contas, não são todos os dias que temos inhame!

Quanto ao coelho, o ovo tem proteína suficiente, será melhor deixá-lo como sobremesa de chocolate. Os dias de Quaresma talvez mereçam um reforço calórico.

Para finalizar, se o simbolismo inicial da tríade se tem perdido com o passar dos anos, faço um apelo aos pais que não deixem de servir o inhame, com a intenção de homenagear as gerações de Homens e Mulheres que ergueram os muros e lavraram a terra só possíveis com a energia renascida deste tubérculo.


Ricardo Oliveira - 0478N
Nutricionista no SESARAM, EPE-RAM

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