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Fique em casa! E tenha cuidado com a alimentação

fique em casa DICAs 1 A melhor explicação que encontro para que pequenos e graúdos tenham atenção à importância que a alimentação saudável tem no fortalecimento das defesas do organismo (sistema imunitário) é, por analogia, o valente Astérix e seus companheiros. O sistema imunitário, também ele cercado por bactérias e vírus, resiste e mantém o seu território desocupado graças à poção mágica do seu druida, leia-se alimentação equilibrada.

Mas, para aguentar o cerco, o nosso Astérix tem de ter a colaboração de todos e, como sabemos, é sempre uma dor de cabeça para os pais quando os filhos têm uma tremenda lista de alimentos recusados, onde só lhes restam meia dúzia de alimentos para dois ou três pratos. Os pequenos guerreiros, desde tenra idade, foram conquistando com muitas birras num campo de batalha, onde as dúvidas dos pais sobre a forma de agir perante a recusa alimentar, fizeram-lhes campeões de sumos e outras doçarias. Agora, é altura de se tornarem verdadeiros vencedores de uma batalha que está em jogo a vida de todos.

Aprender a gostar de um alimento depende de um sem número de fatores. A começar pela aprendizagem que tivemos junto da família, é inegável a influência dos pais como modelos na escolha alimentar, o ambiente à hora da refeição e a variedade e a repetição de experiências com os alimentos.

No entanto, estas variáveis dependem da relação entre pais e filhos. Alimentar o filho não se resume apenas a dar o que for preciso para “matar” a fome. É a forma como se dá o alimento que faz a diferença.

As crianças em idade pré-escolar estão habituadas à hora das refeições ao popular argumento dos pais «come a verdura porque tem muitas vitaminas para ficares forte» ou, talvez o mais conhecido de todos, «se comeres a cenoura ficas com os olhos bonitos». Com certeza, já passou em tempos pelo mesmo e recorda-se de, resignado pela importância das vitaminas, fazer um esforço para acabar com o resto dos legumes que teimavam serem mais fortes que o arroz ou a massa. Fundamental, a tentativa de comer os vegetais deve ser feita com afeto, num contexto positivo, longe de discussões fervorosas ou tentando pressioná-lo para que coma em troca de uma recompensa.

Dizem os entendidos nesta matéria que a relação entre os pais e filhos é extremamente importante para o êxito da difícil tarefa de educar o gosto nas crianças. Afinal de contas, para aprender a comer é necessário aprender a gostar e só aprendemos a gostar quando o contexto é favorável. Mas, atenção, favorável o quanto baste, nada de excessos, cuidado com as recompensas. Obrigar a comer poderá não ser boa ideia, mas recompensar também não é a melhor forma. Saber gerir a aprendizagem é extremamente importante, nem oito nem oitenta. Obrigar a comer ou recompensar não faz com que a criança aprenda a gostar do alimento.

 

Precisamos de criar contextos positivos que envolvam as recomendações alimentares que fortalecem as nossas defesas. Recordo que o zinco, o selénio, o ferro, o ácido fólico e a vitamina A, as vitaminas do complexo B (B2, B5; B6; B12), C, D e E, a gordura ómega-3 (pescado, frutos oleaginosos, sementes), probiótidos (iogurte e kefir) e os fitoquímicos (produtos hortofrutícolas, especiarias e ervas aromáticas) contribuem positivamente para as defesas do organismo.

Vejamos algumas sugestões a serem trabalhadas pelos pais:

- Germinação de sementes e plantas jovens. O excelente manual desenvolvido pela Secretaria Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, da autoria de Ana Ghira e Natália Silva, está disponível gratuitamente e ensina como produzir e tornar possível, através de dezenas de receitas, a utilização dos rebentos e microvegetais nos pratos, sopas, sandes, etc. Esta é uma forma de, com pouco, ganhar muito. Fazer germinar sementes é uma maneira fácil e rápida de aumentar a riqueza das suas saladas e até mesmo de outros pratos. Os rebentos que brotam das sementes são uma fonte condensada de nutrientes reguladores (vitaminas, minerais, fibras e água) superiores aos produtos hortícolas. A grande vantagem está na facilidade com que uma mão cheia de sementes, um recipiente e um espaço húmido podem fazer florescer um jardim portátil em alguns dias. Nestas experiências não necessita de horta, basta os recipientes de vidro e uma janela solarenga. Pesquise com o seu filho como produzir as tenras e suculentas pequenas verduras a partir de uma panóplia de sementes (alfafa, feijão-mungo, lentilha, grão-de-bico, ervilha, aveia, trigo, repolho, agrião, linhaça, rúcula, etc.);

- Outro manual disponível online e gratuito com boas ideias para desenvolver em casa é “Comer com saber em família”, da Secretaria Regional da Saúde e Proteção Civil. Poderá consultá-lo na página do IASAUDE. Neste manual, encontra dicas sobre a elaboração de barrinhas de cereais integrais e fruta; preparar iogurtes em casa, com recurso à iogurteira ou de uma forma tradicional sem o aparelho; como fazer uma bebida vegetal (amêndoa ou com mistura de cereais); preparar creme de leguminosas para barrar o pão ou acompanhar as saladas (hummus) e, por fim, uma lista de ideias para que mantenha a atividade física em casa de uma forma divertida;

- Existem outros recursos disponíveis online que promovem contextos positivos onde pode aprender receitas saudáveis de bolachas caseiras (flocos de aveia + banana + frutos gordos e canela); batidos de fruta e saladas exóticas (vegetais crus com fruta, sementes e germinados); papas de cereais caseiras com farinhas integrais e formas de obter o alimento preferido dos portugueses (pão caseiro);

- Por fim, aventurar-se numa experiência de um outro nível, uma horta caseira vertical. Este projeto é mais ambicioso e terá de ter espaço disponível, materiais e mão-de-obra curiosa e criativa (os filhos!). Mas, garanto-lhe, que será superdivertido e ficará para a história como a coleção do Astérix.

Ricardo Oliveira
Nutricionista, SESARAM
Estratégia Regional de Promoção da Alimentação Saudável e Segura