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16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação

dia mundial da alimentacao CARTAZ O movimento de pessoas através de fronteiras internacionais (migração internacional) ou dentro do mesmo estado (migração interna) é um fenómeno global que atinge todos os países. As causas humanitárias e as causas económicas têm-se destacado como fatores "push/pull" da migração, ou seja, factores que empurram ("push") as pessoas a saírem da sua região de origem e fatores que as atraem ("pull") para outros países ou áreas onde pretendem estabelecer-se. A fome, a pobreza e o aumento de eventos climáticos extremos têm contribuído na última década para o aumento do número de migrantes.

Para os Estados-Membros da União Europeia estes constituem uma população valiosa para contrariar o envelhecimento da população, as baixas taxas de fertilidade, e para fazer face à escassez de mão-de-obra. Contudo, o movimento de grandes grupos de pessoas a necessitar de proteção política, social e económica, torna este fenómeno um desafio à escala mundial, principalmente no sentido de assegurar o direito universal a uma adequada alimentação! Mudar o futuro da migração, investindo na segurança alimentar e no desenvolvimento rural são os tópicos chave do tema deste ano do Dia Mundial da Alimentação, celebrado a 16 de outubro pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) desde 1979.

Os objetivos da FAO ao assinalar anualmente o Dia Mundial da Alimentação têm sido o de alertar para a problemática da fome e da desnutrição, bem como sensibilizar para a necessidade da produção alimentar, de forma sustentável. Uma grande parte dos migrantes tem origem em áreas rurais, onde vivem três quartos das pessoas, que em todo o mundo, se encontram em situação de pobreza extrema. A maioria destas depende da agricultura para sobreviver, um setor particularmente sensível, mais do que qualquer outro, às alterações do clima. 

 

A FAO acrescenta ainda outros dados preocupantes sobre a sustentabilidade alimentar, nomeadamente: um terço dos alimentos produzidos mundialmente é desperdiçado; e, em 2050, será necessário produzir mais 60% de alimentos para alimentar a população em crescimento!

A FAO propõe a criação de condições, por parte da comunidade internacional, que permitam as pessoas fixarem-se nos meios rurais, como forma de ultrapassar os desafios da migração. O investimento no desenvolvimento rural permitirá a todos, mas principalmente aos mais novos, criar oportunidades de emprego, aumentar a segurança alimentar, reduzir a pressão sobre os recursos naturais e encontrar soluções para evitar as alterações climáticas e a degradação ambiental. O desafio vai para além das oportunidades de negócio baseadas em culturas, mas inclui leitarias, produção de aves, processamento de alimentos ou mesmo a criação de empresas hortícolas.

Em Portugal, que foi desde o séc. XV um país, por excelência, de origem de muitos migrantes, tornou-se também, no séc. XX, um país de acolhimento, inicialmente para os cidadãos dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e, mais tarde, com a entrada na Comunidade Europeia, para migrantes provenientes de outros países, nomeadamente do Brasil, da Europa de Leste e mais recentemente, da Ásia (China, Paquistão, Índia e Bangladesh).

Dados do Observatório das Migrações revelam que, em 2014 residiam em Portugal 395.195 cidadãos estrangeiros, tendencialmente mais jovens que a população de nacionalidade portuguesa. Em 2015, o movimento de refugiados nos Estados-Membros da União Europeia e nos países vizinhos atingiu níveis sem precedentes.

A necessidade de recolocação e reinstalação de pessoas com necessidade de proteção internacional colocou uma pressão política e social sobre todos os países, incluindo Portugal. A sustentabilidade e a segurança alimentar das comunidades são por isso temas cada vez mais pertinentes num mundo globalizado, sob a pretensão de que continue a ser o lar de todos e de cada um de nós!

Liliane Costa, nutricionista, mestre em Saúde e Desenvolvimento
(Unidade de Nutrição e Dietética do SESARAM, E.P.E.)