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Crise muda os hábitos de consumo de 70% dos portugueses

crise muda habitos consumo A crise económica vivida em Portugal já levou cerca de 70% dos portugueses a alterarem os seus hábitos de consumo. A conclusão é de um estudo promovido pela Missão Continente e pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e que foi apresentado no início deste mês, revelando que 77% dos portugueses estão preocupados com o desperdício alimentar.

O evento de apresentação dos resultados contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Ministro do Ambiente, José Pedro Matos Fernandes, e do Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José António Vieira da Silva.

Para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa “a primeira palavra a este inquérito é de elogio. Quer saber-se o que os portugueses pensam sobre eles próprios e essa informação, tratada cientificamente, é muito interessante. Este tipo de trabalho não é só um retrato do país, é um catalisador do futuro dos portugueses. Temos de complementar a perspetiva económico-financeira com uma perspetiva sociocultural, permanente. É da simbiose das duas que resulta aquilo que precisa o país”.

Já Luís Moutinho, CEO da Sonae MC, refere que “para a Missão Continente é importante perceber como é que os portugueses vêem o seu futuro e o do país e quais as suas prioridades para que possamos garantir um futuro mais sustentável. Esta é a razão principal pela qual entendemos realizar o Primeiro Grande Inquérito à Sustentabilidade em Portugal, com a coordenação científica do Instituto de Ciências Sociais. Acreditamos que desta forma a Missão Continente conseguirá ir cada vez mais ao encontro das expetativas e necessidades dos portugueses e contribuir para um Portugal melhor, mais saudável e sustentável”.

O estudo procurou perceber qual o impacto da crise no consumo e alimentação dos portugueses e indica que, para além das promoções, 35% dos portugueses passaram a optar por comprar produtos mais baratos. Para além disso, 31% frequenta menos restaurantes e 30% passou a comprar produtos de marca própria. Destaque ainda para as marmitas no trabalho (14%) e para o cultivo próprio de legumes (11%), que passaram a ser alternativa para alguns portugueses.

No entanto, mesmo com o aumento da preocupação com as economias domésticas da maioria, o estudo demonstrou que os portugueses continuam a valorizar a qualidade e a origem dos alimentos. Quando questionados sobre os critérios fulcrais para a compra de produtos alimentares, 86% dos inquiridos afirmou valorizar a frescura e um preço justo, 79% o prazo de validade e 63% os produtos nacionais.

 

No que diz respeito às preocupações alimentares, 77% dos inquiridos destaca o desperdício alimentar, 76% a contaminação por bactérias como a salmonela, 74% o potencial cancerígeno das carnes processadas e 72% a presença de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) nos alimentos.

Nesse sentido, e para evitar o desperdício alimentar, os portugueses inquiridos revelam que querem informação mais clara sobre os prazos de validade (53%) e clarificação dos diferentes tipos de validades existentes (41%).

Relativamente à predisposição para adoção de práticas alimentares alternativas, quase metade dos portugueses (45%) está disposto a optar por proteínas vegetais como grão, feijão e soja, em alternativa à carne. Outras alternativas mais arrojadas são apontadas por 20% dos portugueses como optar por carne de animais clonados ou até ingerir insetos e minhocas processados (19%).

No que diz respeito às políticas públicas, nas quais os portugueses consideram ser importantes apostar, o destaque vai para as áreas sociais, nomeadamente a aposta na boa prestação de serviços (educação e saúde) e a segurança pública.

Os resultados agora divulgados mostram que em Portugal já 73% dos portugueses ouviu falar de sustentabilidade, com os media a liderarem como meio privilegiado para aceder à informação sobre este tema.

Outra das conclusões mais importantes deste estudo é que a crise económica veio trazer várias mudanças ao nível dos perfis de consumo. Neste momento, o perfil dominante dos portugueses é o "consumidor livre-escolha", que valoriza ter à sua disposição um vasto leque de bens e serviços.

Assim, os consumidores nacionais optam, sobretudo, por formatos de loja associados a variedade, como é o caso dos hipermercados (68%), supermercados próximos da residência (62%), lojas especializadas (53%) e grandes áreas comerciais (48%). Contudo, as feiras e mercados, as compras diretas ao produtor e as lojas, mercados biológicos e cooperativas começam a ganhar algum destaque, assim como as compras de produtos alimentares na Internet, com 10% dos portugueses a revelar fazê-lo com regularidade.

Destaque ainda para um novo perfil de consumo do pós-crise, o "consumidor constrangido", que está sobretudo preocupado em gerir poupanças e que para isso compra em promoções (39%), compra produtos mais baratos (35%) e compra produtos de marca própria (30%).

Fonte: Revista Distribuição Hoje de 8 de setembro de 2016