Drones – assalariados eletrónicos na agricultura (parte II) |
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Ainda há poucos dias, quase que inconscientemente, muitos de nós repetimos um exercício que ocorre sempre que acaba ou está prestes a finar-se um ano e outro começa ou anuncia-se. Naquela mudança ou transição "ano morto, ano posto", estabelecemos a "nossa lista", normalmente pessoal e intransmissível (e daí, raramente escrita) para 2015. Mais guia de intenções, chamamos pelo nome os pecados que (mais uma vez) juramos abandonar e as virtudes a que (mais uma vez) pretendemos alcandorar. Tudo não passará de uma tentativa de hierarquização e "lembrete" de propósitos. Nas empresas, nas instituições e outras formas organizativas a definição de listagens será mais uma questão de ordem, a qual é, como observou o poeta francês Paul Claudel, «o prazer da razão», por oposição à "desordem" que constitui «a delícia da imaginação».
Dito por quem é profundo conhecedor de causa, e não adivinho de salão, na lista de aparatos tecnológicos que vão ter um especial impacto na vida das pessoas e das sociedades nos tempos vindouros, o MIT inclui, sem qualquer dúvida, os "drones". Das considerações que levaram os cientistas da renomada universidade de Cambridge a integrarem no seu «top 10» os "drones", destaca-se o seguinte: são aeronaves não tripuladas fáceis de utilizar, equipadas com câmaras de menos de € 1.000, que permitem fazer a monitorização regular das culturas agrícolas para melhorar o consumo de água e a gestão de pragas; a tecnologia é possível graças aos avanços com os sensores MEMS, os pequenos módulos de GPS e os rádios digitais; e as empresas que assumem a vanguarda nos equipamentos são a 3D Robotics, Yamaha e a Precision Hawk.
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A este nível, a título de exemplo, ainda em 22 de julho passado, um "drone" ia sendo responsável por um acidente no aeroporto de Heathrow, em Londres. Segundo o piloto do Airbus A320, que transportava cerca de 180 pessoas, a 700 metros do solo uma inusitada "ave mecânica", invisível aos radares, incomodou a aterragem do avião, o que poderia ter descambado em tragédia. O incidente foi classificado como categoria "A", o que significa "grave risco de colisão". Mais por perto, igualmente tem sido notícia a existência de "drones" na aproximação à pista 03 de Lisboa, até uma altitude aproximada de 2.000 pés, cerca de 600 metros. Como referem os especialistas, o maior perigo será um destes voadores fantasmas encafuar-se numa turbina, situação que aliás já se coloca com as aves verdadeiras. Sabe-se que o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) pretende propor um projeto de lei para regular "drones" com menos de 150 quilos. Nos Estados Unidos da América, vários anos depois de colossos como a Amazon e a Google terem apresentado projetos de entregas domiciliárias dos seus produtos com estes equipamentos, autênticos "carteiros aéreos", somente agora a Federal Aviation Administration (FAA), avançou com regras para a sua utilização com fins comerciais. Entre estas, os "drones" com menos de 22 quilos e destinados a "operações não-recreativas", não devem voar de noite nem próximo de aeroportos, e terão de estar sob a vigilância constante de quem os comandar. O que vale é que, sobre os terrenos agricultados o céu é menos turbulento, e a segurança e privacidade muito maiores. Em países como o Japão e o Brasil a utilização de "drones" na atividade agrícola está em franco crescimento e, em Portugal, já fizeram a sua aparição, designadamente no Ribatejo para a monitorização da cultura do milho. O que não correu mesmo nada bem foi a estreia de um "drone" oficial, mais concretamente da Marinha portuguesa, destinado a missões de busca e salvamento, fiscalização das pescas, apoio à segurança marítima e ao combate à poluição. No ato oficial, com a presença do responsável pela Defesa, a aeronave planou apenas 2 segundos para logo amarar de cabeça no Tejo. Porque irremediavelmente cómica, a cena constará para sempre dos gags da "dronização", mas quem a visione não deixará de comungar, e querer partilhar um pouco, da aflição e da vergonha pelo que o desgraçado do fuzileiro-lançador passou. Não consistirá fabulação, acreditar que os "drones" venham a tornar-se igualmente uma ferramenta de grande utilidade para a agricultura de pequena dimensão, como é a praticada no território da Região Autónoma da Madeira. Face às condicionantes do espaço e aos custos de aquisição dos aparelhos, como dos equipamentos suplementares e das aplicações informáticas necessárias, uma solução de interesse coletivo poderia permitir uma melhor gestão, quer da utilização/voo desta nova "alfaia" agrícola, quer dos dados que disponibiliza. Quanto a este último aspeto, a informação recolhida nas diferentes explorações envolvidas seria interpretada por técnicos especialistas, e as orientações corretivas dali obtidas posteriormente endereçadas aos principais interessados.
Paulo Santos |
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