1 1 1 1 1

XXX Festival Regional de Folclore e XXVI Feira Regional de Municípios – transportemo-nos até lá

cartaz48 horas A4Este ano, o tema que abraçará o Festival Regional de Folclore à Feira Regional de Municípios, a decorrerem já no próximo fim-de-semana em Santana, conferindo-lhes uma coerência e propósito, será o dos «transportes».

Como guardiões e conservadores da memória e tradições de um dado povo, de uma certa geografia, pois ali estarão representados os onze concelhos da Região Autónoma da Madeira, os grupos de folclore procurarão selecionar as apresentações que, de algum modo, evoquem o mote proposto, enquanto as diferentes autarquias exibirão, recorrendo principalmente a objetos e documentos, o que sobre a matéria mais estará inculcado nas suas gentes. O que uns e outros levarão ao público, numa perfeita comunhão, dado que conjugando o imaterial de canções e dançares à fisicalidade de um determinado aparato, traduzirá o que os «transportes», seja de mercadorias, seja de pessoas, foram e representaram para as populações madeirenses.

Ao longo dos tempos, na medida em que o Homem evoluiu também evoluíram as formas de se transportar a si e aos seus bens. Com o seu engenho e arte, primeiro utilizou os "caminhos" mais acessíveis, fossem de água ou de terra, construindo embarcações e recorrendo, após o crucial invento que foi o da roda, à tração animal. Muitos séculos depois, principalmente com o surgimento da máquina a vapor, foi construindo meios de transporte mais rápidos, mais seguros e que chegavam cada vez mais longe. Atualmente, com tudo o que a ciência rapidamente alcançou após a Revolução Industrial, e se bem que o "teletransporte" seja o sonho, estamos no ponto em que o "homem" do princípio do parágrafo já se autocontempla a partir de uma estação espacial em órbita ao planeta. A uma altitude de 340 a 353 km e à velocidade de 27.700 km/hora!

Embora algo simplista, quando se fale de «transportes», estaremos a referir-nos a «meios de transporte». E estes, na verdade, são uma fotografia do progresso das sociedades. Mas seria redutor pensar-se, sobretudo quando se aborda os de movimentação terrestre, bastar deter «meios de transporte», quando os próprios necessitam de "meios" para se "transportarem"

Adam Smith (1723-1790), o escocês que muitos reconhecem estar na génese da economia moderna, em pleno Século das Luzes considerou que «boas estradas, canais e rios navegáveis, colocam as regiões remotas de um país num nível mais próximo do daquelas nas vizinhanças das cidades. Por causa disso, representam as maiores de todas as melhorias».

falcao corsa

 

transporte paoPorém, na Região Autónoma da Madeira, as tais "boas estradas" referidas por Adam Smith, com as devidas adaptações, são uma realidade muito recente, e fruto da conquista da sua autonomia política e administrativa. Esta incomensurável obra, naturalmente, com o andar dos anos, poderá fazer esquecer, (ou "lembrar menos"), como eram as condições e os meios de transporte de pessoas e géneros não há muito tempo. Senão atente-se nos seguintes factos:

- o Governador Civil José Silvestre Ribeiro, em ofício de 1850, dizia ao Ministério do Reino considerar «sem estradas a Ilha da Madeira»;

- em junho de 1912 o presidente da Junta Geral, em reunião da Comissão administrativa, admite que é «de tal forma lastimável o estado de atraso em que se encontra o distrito em matéria de viação que é necessária a construção de estradas...»;

- o primeiro automóvel que circulou no Funchal, em 1904, foi um Wolseley de uma família britânica em férias;

- o primeiro registo automóvel realizado na Madeira foi o de um Dion Bouton, em 1907, da Empresa Madeirense de Automóveis, constituída nesse mesmo ano e à qual a Câmara Municipal do Funchal fez a primeira concessão de exploração dos transportes públicos;

- entre 1912 e 1926, de acordo com os livros de Registo de Veículos da Comissão Técnica de Inspecções, Provas e Exames de Automóveis e Condutores da Circunscrição da Madeira, foram registadas 675 viaturas;

- durante o primeiro quartel do século XX conviviam ainda transportes de tração animal ou humana, e a Câmara Municipal do Funchal continuava a regulamentar a forma como deviam ser arrumadas zorras, corças e corções.

Estimado leitor, não se deixe agrilhoar pelo suave e bom remanso do fim-de-semana a um merecido sofá e "transporte-se", levando os seus, até à amável e bonita cidade de Santana. Tenha a certeza de que lá poderá partilhar uma inesquecível "viagem"/"transporte" à memória, cultura e identidade madeirenses.

Se o espírito engrandecerá e, certamente, agradecerá, mais outros bons motivos poderá acrescentar como, por exemplo, "transportar" para os sentidos, os sabores, aromas e texturas da mais genuína gastronomia regional.

 

Paulo Santos
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural