A importância da manutenção e recuperação da paisagem de socalcos na economia regional |
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Por iniciativa da Organização das Nações para a Agricultura e Alimentação (FAO), comemora-se em 2015 o Ano Internacional dos Solos. Sendo o solo um recurso não renovável, esta iniciativa pretende alertar a população para a necessidade urgente da sua preservação. Na Região Autónoma da Madeira, a criação de socalcos é uma das principais técnicas de conservação do solo, que importa preservar também pela sua relevância na paisagem. Cada vez mais, a paisagem é reconhecida como uma componente fundamental do património rural natural e cultural. Atendendo à transformação e simplificação das paisagens rurais nos últimos anos, a que se associa o processo de globalização, a Convenção Europeia defende a necessidade de melhor conhecermos as nossas paisagens. Segundo Correia (2010) "não se trata unicamente de proteger algumas paisagens, ou tipos de paisagem, mas sim de saber que tipos de paisagem se podem encontrar e onde, compreender como funciona e como reage a paisagem às diferentes atividades que o Homem sobre ela desenvolve, como é utilizada, que valor tem para cada indivíduo e para a comunidade, e em função destes vários aspetos, que prioridades e princípios se devem definir para a sua gestão", para melhor as valorizarmos e gerirmos. É uma nova interpretação do papel da agricultura para o desenvolvimento rural, que, por um lado, considera as funções e as relações existentes numa determinada paisagem (conservação da natureza, qualidade da água, manutenção da identidade cultural, apoio ao lazer e qualidades de estilos de vida, etc) num determinado tempo e, por outro, avalia o impacto do uso do solo nessas várias funções. As funções definem-se como bens e serviços fornecidos pela paisagem que satisfaçam as necessidades, as exigências e as expectativas das pessoas, sendo por isso valorizadas pela sociedade. Deste modo, o sector agrícola não é mais o suporte da economia rural mas sim a economia rural que suporta a agricultura (Potter, 2005). |
É um facto, contudo, que as disparidades entre custos e benefícios condicionam a conservação da natureza, pois há que suportar os custos de manter-se um determinado uso do solo em detrimento de um outro economicamente mais rentável. De modo a contrariar esta disparidade, a agricultura tem beneficiado de apoios comunitários, sempre que as suas práticas sejam ecologicamente benéficas para a conservação de um ecossistema, a exemplo do Plano Estratégico de Desenvolvimento Regional para o Desenvolvimento da Agricultura Biológica na Região Autónoma da Madeira. A paisagem da Madeira é fortemente caracterizada não só pelo clima, pela orografia complexa e pelo vastíssimo património natural, mas também pela humanização promovida ao longo dos tempos, que condicionaram de forma significativa o desenvolvimento físico e económico do setor agroflorestal e da atividade agrícola em particular. Assim, o solo é determinante na modelação da paisagem, facto com particular importância na Ilha da Madeira, onde os socalcos constituem uma característica marcante da paisagem rural. Caracterizam-se pelo seu elevado valor cultural, ambiental e ecológico, pelo que a sua valorização e preservação, por ser uma mais-valia para a paisagem madeirense, única no mundo, é fundamental.
Guida Gomes |
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- Detalhes
Mas qual o valor de uma paisagem? Mesmo que de difícil quantificação, a atribuição de um valor aos bens e serviços provenientes da diversidade biológica permite que, ao analisarmos duas alternativas de uso para o mesmo espaço, estejamos a ter em consideração todos os proveitos daí resultantes. Na Ilha da Madeira, a paisagem sustenta o principal impulsionador da economia local – o turismo. A agricultura madeirense, com todas as suas características (redes de levadas, a micro propriedade, os "poios" e os muros de suporte em pedra emparelhada, etc.), origina um tipo de paisagem extremamente singular e humanizada. Os socalcos são ainda importantes para o controlo da erosão dos solos.