Agricultura, ambiente e a identidade do território |
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A agricultura chegou à cidade. No mundo virtual, num ambiente "touch", milhões de adultos e crianças brincam agricultando em aplicações como o Hay Day ou o FarmVille.
Já a agricultura do mundo real, sobretudo a industrializada, tem impactos seríssimos no ambiente. Os números são esclarecedores: perdem-se por ano dois milhões de hectares de floresta, três milhões de hectares de terra fértil e escasseiam a água e os terrenos férteis. Mas a ordem é produzir, produzir a qualquer custo. O agricultor conhece melhor do que ninguém as consequências da monocultura, da produção intensiva e do uso desregrado de pesticidas. Ele sabe quanto custa reabilitar os solos, "cansados" e desequilibrados, e combater pragas cada vez mais resistentes. Na Madeira não temos que sentir o "peso do mundo", felizmente não vivenciamos no nosso território o drama das mega plantações criadas para satisfazer as necessidades de farinhas, óleos, forragens, rações e açúcares, dos mais de sete biliões de habitantes do planeta. |
A agricultura não será o setor económico mais relevante para a Região, mas é possivelmente o setor mais determinante para a sustentabilidade ambiental, económica e social do território. Efetivamente, a agricultura regional não se limita a fornecer frutas e hortícolas de qualidade, presta também um serviço de valor inestimável na paisagem humanizada e na nossa identidade enquanto povo. Mas para ser uma atividade sustentável, e que vá ao encontro das ambições do território, há passos a dar: potenciar a valorização agrícola dos resíduos orgânicos e dos efluentes pecuários, somos excessivamente dependentes de adubos e corretivos importados; assegurar as produções mais adequadas e as melhores práticas agrícolas, efetivamente é mais produtivo focarmo-nos nas boas práticas do que propriamente endurecermos o diálogo, por vezes fratricida, entres "os da" agricultura convencional e "os da" agricultura biológica; implementar, no âmbito da política de solos, mecanismos que assegurem a proteção efetiva dos solos de maior aptidão, travando a sua fragmentação e erosão. Nesse âmbito, porque não criar áreas de paisagem de cultura protegida? O Estreito de Câmara de Lobos, por exemplo, como área protegida da Tinta Negra Mole. Não faz sentido "plantar" prédios de apartamentos, impossibilitando permanentemente futuros usos do solo, em socalcos com características edafoclimáticas únicas, que não são replicáveis em qualquer outra parte do mundo. A opção pela construção não pode, não deve, não tem de ser o custo ou a conveniência. Devemos procurar sempre evoluir sem hipotecar o futuro, assegurar a nossa identidade, a vitalidade da economia, a saúde pública e a qualidade de vida. É um desafio complexo, sendo certo que o mundo real não é um mundo touch - na verdade é muito melhor! Aproveitamos ainda a DICA para dar uma dica: no próximo dia 11 há a "Corrida do Ambiente", são todos bem-vindos!
Ara Oliveira (Fotografias da Madeira: Virgílio Gomes) |
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