Decorreu na Escola Agrícola da Madeira uma ação de formação organizada pela Melaria da Laurissilva denominada “A Alimentação em Apicultura”. Esta ação de formação teve como orador o Dr. António Gómez Pajuelo, consultor da conceituada empresa espanhola “Pajuelo”, especializada há mais de 40 anos na atividade apícola.
À semelhança de qualquer outro animal, a abelha necessita de uma alimentação apropriada para uma atividade de produção e de reprodução adequada.
A maior parte da alimentação das abelhas adultas são os pólens e os néctares das plantas, sendo os primeiros ricos em proteínas, lípidos, minerais e vitaminas e os segundos fonte de hidratos de carbono e minerais.
No entanto, nalgumas épocas do ano, nomeadamente no período outono/inverno, existe alguma escassez de floração, o que obriga a que os apicultores tenham de colocar nas colmeias a alimentação de substituição. A quantidade de alimento a utilizar dependerá da quantidade de criação e de abelhas, da quantidade de reserva de mel e de pólen existentes na colmeia e do objetivo do apicultor, se é apenas para a manutenção do enxame ou se pretende qua haja reprodução. Em média, uma colmeia poderá consumir entre 50 a 120kg de mel/ano e cerca de 12 a 40kg de pólen/ano.
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Figura 1 – Sobrevivência das crias: alta (A), média (B) e baixa (C) |
A escassez de alimento ou de níveis insuficientes de nutrientes nas colmeias manifestam-se através do tamanho do abdómen da abelha, da mortandade elevada, dos quadros das posturas com pouco mel e pólen e da pouca criação, de comportamentos de canibalismo, de pupas e larvas pequenas, de pouca quantidade de geleia real na criação e de maior sensibilidade a doenças, entre as quais a nosema.
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Figura 2 – Elaboração da alimentação de substituição, xarope e pasta
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Aquando da elaboração da alimentação de substituição, dever-se-á ter atenção às condições de higiene, à água utilizada, a qual deverá ser preferencialmente de nascente, e às matérias-primas que deverão ser de qualidade e possuir determinados critérios, entre os quais a composição nutricional e a sua proporção, o tamanho das partículas (que deverão ser inferiores a 200 Microns), a palatização (sabor que as abelhas preferem) e a conservação do alimento (de modo a que este não fermente).
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Como referido anteriormente, dependendo do objetivo do apicultor, se além da manutenção da colmeia quer que haja reprodução, e tendo como variáveis a existência ou não de mel e de pólen, poder-se-á concluir que:
- Havendo pólen em quantidades suficientes, apenas terá de ser fornecido xarope/calda, o qual poderá ser feito com 50% de água e 50% de açúcares (monossacáridos ou dissacáridos), na proporção 1:1. Caso as temperaturas sejam baixas, a calda deverá ter a proporção 1:2.
Deverá ser Fornecido cerca de 1,5kg/semana, no mínimo durante 3 a 4 semanas, de forma a que a rainha se aperceba que está entrando alimento de forma continua na colmeia, fazendo com que esta continue com as posturas.
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Figura N.º 3 – Colmeia sem mel e sem pólen e colmeia com mel e sem pólen |
- Quando na colmeia existe pouco pólen, além do xarope/calda, dever-se-á fornecer também de forma contínua cerca de 100 a 200g por semana de “pasta”, a qual deverá ter a forma de “hamburger”, com aproximadamente 1cm de altura, coberta com papel manteiga dos dois lados. Para a elaboração desta pasta, dever-se-á ter em conta a composição do pólen, descrita anteriormente, de modo ao apicultor reproduzir de forma fiável todos os nutrientes que este possui.
Assim sendo, para a elaboração da pasta poder-se-á utilizar ½ l de água morna; 1kg de açúcar; 1kg de levedura de cerveja inativada; ½ kg de açúcar em pó; 30ml de óleo de girassol; 2g de vitamina C (acido ascórbico); 3g de sorbato de potássio e utilizar um aromatizante que poderá ser um mel de origem conhecida, canela em pó, ou raspa de limão.
Para a elaboração da pasta, se em vez de utilizarmos a levedura de cerveja, utilizássemos farinha de soja, teríamos de adicionar um multivitamínico animal. Outro especto importante é a consistência da pastilha, pois esta deverá ter em conta se será aplicada em zona húmida ou não, para manipular a densidade, poderemos utilizar o açúcar em pó como o elemento “neutro”.
De referir que os alimentadores onde é colocado o xarope, são algumas vezes meio de transporte de doenças, assim sendo, estes poderão ser substituídos por sacos plásticos transparentes, mas suficientemente finos que a abelha consiga perfurá-los. No caso das pastilhas, se em vez do papel manteiga utilizarmos também sacos, deveremos efetuar um corte em "X".
Aurélia Sena Direção Regional de Agricultura
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