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Estudo sobre a prevalência de zoonoses e outras patologias nos animais errantes

animais errantes 1Entende-se por animal errante “qualquer animal que seja encontrado na via pública ou noutros lugares públicos fora do controlo e guarda dos respetivos detentores, ou relativamente ao qual existam fortes indícios de que foi abandonado ou não tem detentor e não esteja identificado”. Esta é a definição estabelecida pela legislação portuguesa segundo o DL 260/2012 de 12 de dezembro, que aprova a Convenção Europeia para a Proteção dos Animais de Companhia.

Como é do conhecimento geral, a existência de animais errantes tem graves consequências a vários níveis, nomeadamente de saúde pública, segurança e bem-estar animal, com relevantes impactos socioeconómicos. Os problemas de saúde pública provocados pela presença dos animais errantes são vários, nomeadamente a transmissão das zoonoses (doenças transmissíveis de forma natural de animais vertebrados ao homem e vice-versa), as agressões, a poluição ambiental por conspurcação dos espaços públicos, o incómodo e os acidentes.

No estudo que pretendemos realizar, vamos incidir o nosso trabalho não só no diagnóstico das doenças transmissíveis ao homem que são uma ameaça para a saúde pública, como também no diagnóstico das doenças que atingem exclusivamente os animais e que põem em risco a saúde dos mesmos.

Este projeto de estudo, da responsabilidade da área das Análises Veterinárias da Divisão de Análises Veterinárias e Agroalimentares (DAVA), resulta do interesse científico em determinar a prevalência de determinadas doenças na população errante, canina e felina, da Região Autónoma da Madeira. Foi essencial o interesse demonstrado por algumas clínicas e associações em colaborar connosco, já que são elas, em primeira mão, que contactam com os animais errantes e que executam os procedimentos de colheita de amostras para posterior análise. Salienta-se também o interesse demonstrado pelo Laboratório Nacional de Referência na execução de ensaios que não estão implementados no LRVSA, nomeadamente o virológico.

Para além das zoonoses, pretendemos estudar outras doenças que só afetam os animais. A população que vai ser objeto deste estudo enquadra-se no tipo 2 (animal de vida livre sem dono) e tipo 3 (animal que perdeu a capacidade de socialização por ter nascido nessa condição ou estar abandonado há muito tempo) segundo a classificação da OIE (Office Internacional des Epizzoties OIE, 2011).De seguida enumeram-se as patologias cuja prevalência se pretende avaliar no universo de cães e gatos errantes da Região Autónoma da Madeira.1. Doenças de origem parasitária

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Protozoário flagelado do género Giardia

Giardiose – é causada por um protozoário flagelado do género Giardia, responsável por infetar um grande número de hospedeiros, entre eles o cão, o gato e o homem, sendo conhecida como uma importante causa de doença gastrointestinal em humanos e descrita como o parasita entérico mais comum nos animais domésticos.

Criptosporidiose – é causada por um protozoário do género Criptosporidium, responsável por diarreias e gastroenterites em hospedeiros vertebrados entre eles o cão e o gato, sendo que a transmissão pode ser feita diretamente por via oral/fecal ou indiretamente por alimentos ou água contaminadas.

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Leishmaniose – é causada por um protozoário intracelular pertencente ao género Leishmania e que se transmite pela picada de insetos flebotomídeos.

Afeta normalmente os canídeos e, com menos frequência, o gato. Em humanos, existem 3 tipos de doença, a visceral, que é a mais grave, a cutânea e a mucocutânea.

 

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Protozoário intracitoplasmático que causa babesiose

Babesiose – é causada por um protozoário intracitoplasmático que infeta os animais domésticos, silvestres e o homem, através de uma carraça e que provoca uma anemia hemolítica ou inflamação sistémica com disfunção orgânica.

Toxoplasmose – é causada por um protozoário Toxoplasma gondii. Os felinos são os únicos animais capazes de libertar oocistos nas fezes e de transmitir o parasita por esta via.

2. Doenças de origem bacteriana

Leptospirose – é causada por bactérias do género Leptospira e tem como principais reservatórios de infeção os roedores. Os mamíferos domésticos e selvagens podem ser hospedeiros acidentais. A eliminação do agente ocorre sobretudo na urina, sendo as vias de entrada a pele e as mucosas (conjuntiva).

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Bactérias que provocam Anaplasmose/Bartonelose/Erliquiose

Anaplasmose/Bartonelose/Erliquiose – são causadas por bactérias que atacam as células sanguíneas e que infetam os animais domésticos, silvestres e o homem, através de um hospedeiro invertebrado (pulga ou carraça).

3. Doenças de origem fúngica

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Fungos que causam doenças em animais errantes e que se transmitem ao homem

Doenças causadas por fungos dos géneros Trichophyton e Microsporum que se transmitem ao homem.

4. Doenças de origem Viral

Retrovírus – na família retroviridae incluem-se os vírus da Imunodeficiência felina (FIV) e da leucemia felina (FeLV), patologias de grande importância nos felídeos, devido ao seu envolvimento em doenças neoplásicas, alterações hematológicas e imunossupressão. São doenças crónicas sem cura, de fácil propagação entre animais errantes.

O conhecimento da prevalência destas doenças, para além de permitir compreender a disseminação das mesmas, constitui-se ainda como um instrumento de monitorização que permitirá às autoridades atuar nomeadamente na escolha dos programas de desparasitação, de vacinação e de esterilização.

 

Margarida Neves da Costa
Responsável Técnica da área das Análises Veterinárias do LRVSA
Direção Regional de Agricultura