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A Triquinelose

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Fig. 1 – Exploração de suínos como reservatórios
de triquinelose

A triquinelose é uma zoonose causada pelos parasitas do género Trichinella. Existem várias espécies deste organismo, sendo a Trichinella spiralis a mais importante nas infeções humanas, em que os suínos domésticos são o principal “reservatório” (Fig. 1).

Trichinella spiralis é nome científico do parasita vulgarmente designado por Triquina. São Nematelmintes (parasitas de corpo cilíndrico) do grupo dos Nemátodos (corpo não segmentado). Os parasitas adultos são muito pequenos em que o macho e a fêmea medem cerca de 3 mm a 4 mm, respetivamente. Vivem na mucosa intestinal do homem ou de outros animais como o cão, o gato, o rato e o porco. Todo o seu ciclo de vida ocorre no interior do hospedeiro (Fig. 2).

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Fig. 2 – Ciclo de vida da Trichinella spiralis

Nos humanos, o principal meio de transmissão é através do consumo e ingestão de carne de suíno crua ou mal cozida contendo larvas do parasita. Derivados como chouriços, linguiças e bacons que sejam produzidos com carne de suíno contaminado também podem funcionar como vetores de infeção. A infeção nos suínos é feita por meio da alimentação destes com produtos de origem animal que também estejam contaminados com o parasita, pela sua exposição a roedores ou outros animais silvestres infetados com T. spiralis.

A infeção aparece quando é ingerida carne contendo quistos com as respetivas larvas. Quando a cápsula do quisto é digerida no estômago ou no duodeno, as larvas são libertadas e atravessam a parede do intestino delgado. Durante dois dias as larvas amadurecem e chegam a adultos machos e fêmeas e acasalam. A partir desta fase, os parasitas machos já não participam na infeção. As fêmeas fecundadas vão para a mucosa intestinal. Cada parasita fêmea pode originar mais de 1000 larvas durante 4 a 6 semanas. A partir das submucosas as fêmeas depositam as suas larvas diretamente nos vasos sanguíneos, as quais são conduzidas por todo o organismo. É provocada uma parasitemia e as larvas circulantes entram nos músculos de grande irrigação onde se localizam intracelularmente. Ao fim de três meses enquistam-se. O ciclo evolutivo termina quando o tecido infetado de um animal é ingerido por outro.

Nos humanos o parasita pode causar vários sintomas. A manifestação dos sintomas difere de acordo com número de larvas existentes, com os tecidos que foram afetados e com o estado geral de saúde do hospedeiro. Um ou dois dias após a ingestão da carne infetada surgem sintomas intestinais podendo o doente apresentar febre ligeira. Os sintomas aparecem normalmente 2 a 8 semanas após a infeção, sendo os mais comuns: náuseas, diarreia, vómitos, cansaço, febre, dores musculares e dores abdominais seguidos de fraqueza e nos casos muito graves, complicações cardíacas, insuficiência respiratória e problemas neurológicos.

 

Normalmente as pessoas afetadas recuperam completamente da triquinelose. A triquinelose pode ser evitada cozinhando bem a carne de suíno e seus derivados. Outra maneira eficaz na eliminação deste parasita é através da congelação da carne sob condições específicas.

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Fig. 3 – Músculo de suíno para pesquisa de
Trichinella
figura4 triquinelose
 Fig. 4 – Método de digestão artificial

A pesquisa de larvas de Trichinella, realizada no Laboratório de Parasitologia do Laboratório Regional de Veterinária e Segurança Alimentar (LRVSA), da Direção de Serviços dos Laboratórios e Investigação Agroalimentar, é efetuada em amostras no âmbito do controlo oficial para deteção de larvas de Trichinella em músculo (em carne fresca de suíno) Fig. 3.

A pesquisa de larvas de nemátodos do género Trichinella em músculo, é executada através do Método de Deteção de Referência (Método da digestão de amostras combinadas utilizando um agitador magnético) referenciado no Capítulo 1 do Anexo 1 do Regulamento de execução (UE) 2015/1375 da Comissão de 10 de Agosto de 2015. O princípio do método baseia-se na digestão do músculo, obtida pela acção da enzima pepsina e do ácido clorídrico em água aquecida e posterior observação do fluido de digestão com um estereomicroscópio. É considerado um método fiável para utilização de rotina.

figura5 triquinelose
Fig. 5 Larva de Trichinella spiralis

Este método é um dos ensaios acreditados no LRVSA pelo IPAC, e consta no anexo técnico L0509, como se pode verificar no site do IPAC, sítio de entidades acreditadas. Este método permite a obtenção do resultado no próprio dia.

A colheita das amostras para a pesquisa de larvas de Trichinella não é da responsabilidade do Laboratório.

Erica Pires
Direção Regional de Agricultura