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A silagem

silagem1 A silagem é um processo de fermentação húmida que visa a conservação de forragens verdes, com preservação das suas qualidades nutritivas, durante o qual se favorece a atuação de bactérias anaeróbicas responsáveis pela diminuição do pH (< 4) e inibe-se as bactérias aeróbicas que originam perdas de hidratos de carbono (H.C.) e solubilização das proteínas.

Tem por objetivo principal cortar um excesso de forragem em períodos de maior abundância e conservá-la para as épocas em que o crescimento vegetativo é mais fraco. É um processo que contempla duas fases distintas:

1.ª) Respiração: em que a forragem recém-cortada e ensilada continua a respirar até faltar oxigénio. Dever-se-á garantir que esta tenha uma duração rápida, impedindo, assim, perdas de valor alimentar das forragens. Após a deposição da forragem no silo, esta deverá ser devidamente calcada com um trator e coberta com plástico. Na fase inicial da fermentação, atuam as bactérias anaeróbicas facultativas, que transformam os H.C. em ácido fórmico, acético, láctico, alcoóis e CO2. A diminuição do pH do meio destrói estas bactérias as quais não resistem a um pH < 4,5. Têm uma ação proteolítica, transformando as proteínas em amoníaco e aminas tóxicas.

2.ª) Acidificação: esta fase corresponde à fermentação láctica, em que os açúcares são fermentados por enzimas bacterianas e transformados em ácidos orgânicos. Com a produção máxima de ácido láctico e consequente diminuição do pH (< 4), qualquer forragem obterá a estabilidade necessária para se conservar devidamente.

Uma forragem é tanto mais fácil de conservar como silagem, quanto menor for o seu teor em proteínas, o seu poder tampão e a conspurcação por terra, e maior for o seu teor em hidratos carbono solúveis (H.C.S.) e em matéria seca (M.S.);

Nem todas as forragens têm a mesma aptidão para a conservação. As gramíneas forrageiras, como por exemplo a erva castelhana (Lolium multiflorum), o azevém (Lolium perenne L.), o pé-de-galo (Dactylis glomerata L.) e a festuca (Festuca spp.), são culturas que se prestam bem à conservação como silagem, atendendo ao seu elevado teor em H.C. e ao seu reduzido poder tampão, variáveis consoante a espécie.

Das culturas cerealíferas, a do milho (Zea mays L.) é sem dúvida a mais popular e difundida por todo o mundo, com vista à produção de silagem. Possui a vantagem de dar elevadas produções, por hectare, de um alimento com alto valor energético, boa consistência e palatabilidade. 

 

silagem2 A digestibilidade da matéria orgânica (M.O.) é pouco afetada pelo estado de maturação da planta e apresenta uma facilidade extrema de conservação sem recorrência a aditivos, dando origem a silagens lácticas. A sua maior desvantagem traduz-se pelo seu baixo teor em proteína bruta, apresentando normalmente valores inferiores a 10 % do total da M.S.. De modo a colmatar esta deficiência, poder-se-á adicionar ureia à silagem. O nível recomendado para este aditivo nutritivo é de 0,5 a 1,0 % / ton. de matéria verde.

As leguminosas como por exemplo a luzerna (Medicago sativa L.), o trevo encarnado (Trifolium incarnatum L.) e a fava (Vicia faba L.), são também suscetíveis de conservação como silagem. Possuem a capacidade de fixar o azoto, sendo mais ricas em proteína do que as gramíneas. A capacidade tampão das forragens é provocada pelos sais de ácidos orgânicos e pela presença de iões minerais e proteínas. Estes constituintes estão presentes em maiores quantidades nas leguminosas do que nas gramíneas, o que lhes confere uma maior capacidade tampão. Esta característica, associada a uma menor concentração em H.C.S., torna-as mais difíceis de conservar.

A digestibilidade e a ingestão são os principais fatores responsáveis pela determinação do valor alimentar das forragens. Como qualquer processo de conservação, a silagem não melhora o valor alimentar das forragens verdes, conduzindo a perdas de M.S., variáveis com o processo e com a qualidade de preservação. Torna-se, pois, importante definir o estado de crescimento vegetativo ideal das plantas para corte e conservação. Com o avanço na maturação das plantas há um aumento gradual da fração componente da parede celular e como consequência uma diminuição proporcional na digestibilidade da M.O. Segundo vários investigadores, existe uma correlação positiva entre a digestibilidade das silagens e a performance animal, expressa quer em ganhos de peso vivo, quer em produção de leite.

Os mecanismos básicos que regulam a ingestão das silagens são comuns às outras forragens, embora com características especiais, condicionadas pela concentração de alguns produtos finais, que afetam a qualidade de conservação e a ingestão. Como fatores determinantes na regulação da ingestão das silagens temos: a qualidade de fermentação, a digestibilidade, a dimensão das partículas, as espécies animal e vegetal e o tipo de suplementação.

Pedro Fontes Sampaio
Divisão de Proteção Veterinária e Pecuária
Direção Regional de Agricultura