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As Sobralia

As Sobralia, género a que pertencem as famosas “orquídeas-de-cana”, é um género oriundo desde o México a vários países da América do Sul. Têm uma boa representatividade na Madeira, não em número de espécies ou híbridos, mas definitivamente em número de exemplares, tratando-se de uma das “antigas” mais amplamente cultivadas e conhecidas de todos os madeirenses e portossantenses.

sobralia mirabilis
Sobralia Mirabilis 

A Sobralia Mirabilis, a mais comum de todas elas, híbrido antigo registado em 1903, resulta do cruzamento entre a Sobralia macrantha, espécie também presente no arquipélago, e de outro híbrido, desta feita de 1894, a Sobralia Veitchii, cuja presença na ilha, fora de colecionadores especializados, ainda não me foi possível confirmar.

Plantada em vasos, floreiras e jardins, utilizada no paisagismo como bordadura de estradas e mesmo como “moitas” em jardins de tipo “inglês”, são plantas bastante resistentes e que, ainda que longe de ficarem perfeitas, algumas delas toleram sol direto e são notoriamente pouco exigentes em cuidados. Assim, não é de estranhar que, mesmo com o flagelo do abandono e fecho de residências familiares e do êxodo rural, seja relativamente fácil de encontrar, em bom estado, espécimes deste maravilhoso género.

Florescendo, grosso modo, nos meses de verão e nos que lhe antecedem, as suas flores surgem de forma terminal e apical nos rebentos, ou seja, saem na ponta das canas, não havendo mais crescimento da mesma após a floração. São efémeras, com cada flor a durar entre alguns dias e apenas umas horas, como no caso da Sobralia fimbriata. A grande parte delas floresce de forma consecutiva.

sobralia fimbriataflor
Sobralia fimbriata 

Após a murchidão ou polinização de uma flor, o próximo botão inicia o desenvolvimento, levando entre 2 e 4 dias a abrir completamente. Nesta fase, os botões são bastante atrativos para os pulgões, especialmente os pretos, podendo danificar largamente a flor. Muito chamativas para os zângãos, quase que feitas à medida destes insetos alados, é comum encontrarmos cápsulas de semente em exemplares, permanecendo largos meses, perto de um ano na planta, até que rachem e libertem as suas sementes semelhantes a pó.

 

O madeirense, numa lógica genérica de jardinagem, logo após a floração das canas e sabendo de antemão que não voltam a florescer, opta por cortar imediatamente as canas, com a justificação de “dar força às novas”. Isto é totalmente errado, uma vez que a tal “força” trata-se da energia produzida nas folhas da planta e, uma vez que elas, nas canas florescidas, se encontram em perfeito estado de desenvolvimento, é importante que as deixemos até que os novos rebentos tenham quase a altura dos anteriores e os velhos tenham já perdido naturalmente a maioria das folhas. Optar por manter este comportamento menos correto leva à redução gradual da altura da planta, incapaz de produzir açúcares suficientes para lançar canas altas e fortes.

sobralia violacea
Sobralia violácea 
sobralia rogersiana
Sobralia rogersiana 
sobralia macrantha
Sobralia macrantha 

Apesar de tolerarem sol direto, são bem mais felizes com luz velada ou sol apenas matinal.

Algumas espécies, de folha mais larga e arredondada como a Sobralia violácea, preferem sombra, com excelente ventilação, atingindo alturas e vigor totalmente diferentes daqueles que teriam num vaso ao sol. A Sobralia rogersiana, por exemplo, espécie semelhante na flor à Sobralia macrantha e ambas localmente conhecidas como “orquídea-de-cana-roxa”, ultrapassa facilmente e mesmo em vaso, desde que sem sol direto e tendo o cuidado de não efetuar podas desnecessárias, os dois metros de altura, tratando-se de uma planta impressionante quando se permite que atinja o seu potencial máximo.

Relativamente ao substrato e cuidados com os vasos, é pertinente que se escolham os plásticos em detrimento dos de barro, pelo simples motivo que estas plantas produzem um sistema radicular de tal maneira extenso e forte que estalam até vasos de cimento. Ao mesmo tempo, o aumento no tamanho do vaso deve ser feito com parcimónia. Uma planta pequena, num vaso grande, enchê-lo-á de raízes em pouco tempo, tornando as tarefas de reenvasamento difíceis e pouco práticas. Tendo este cuidado, o vaso, difícil de retirar inteiro, pode ser até cortado ou desfeito, não perturbando o torrão de raízes, simplesmente centrando-o no novo vaso, ligeiramente maior, preenchendo-o de substrato. Nesse campo, uma mistura de casca miúda de excelente qualidade, terra de tocos bem decomposta, brita ou argila expandida servem bem o propósito.

Maioritariamente terrestres por natureza, o entusiasta poderá usar o que estiver habituado, garantindo que, no momento da rega, a água não empoce no topo do vaso, mas sim passe rapidamente pelo vaso e saindo, sem pratos, pelos furos que devem ser abundantes.

A adubação, finalmente, pode ser feita com um adubo de libertação lenta formulado especificamente para orquídeas, aplicado até duas vezes ao ano, conforme a duração do mesmo.

Dando-lhes espaço e tempo para viveram a sua verdadeira natureza, estas plantas produzirão flores que, nalguns casos, são incrivelmente perfumadas. Mesmo que floresçam apenas uma vez ao ano e por pouco tempo, o seu vigor e resistência são marcas inconfundíveis do típico jardim madeirense.


Pedro Spínola

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